sexta-feira, 4 de abril de 2014

Confirmado: Nem mesmo o IPEA merece uma pesquisa tão malfeita

Depois de ser bombardeado por várias críticas referentes a metodologia adotada e as conclusões de sua pesquisa sobre a percepção da violência de gênero no Brasil -para saber mais aqui, aqui e aqui - o IPEA vem a público e em nota oficial reconhecer um erro absolutamente primário. Sustenta que trocou as tabelas de uma questão ("Mulher que é agredida e continua com o parceiro gosta de apanhar") com a de outra ("Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas"). Um pouco de paciência para a leitura da nota oficial e depois retornamos com comentários.
NOTA DO IPEA NA ÍNTEGRA
"Vimos a público pedir desculpas e corrigir dois erros nos resultados de nossa pesquisa Tolerância social à violência contra as mulheres, divulgada em 27/03/2014. O erro relevante foi causado pela troca dos gráficos relativos aos percentuais das respostas às frases Mulher que é agredida e continua com o parceiro gosta de apanhar e Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas. Entre os 3.810 entrevistados, os percentuais corretos destas duas questões são os seguintes:
Mulher que é agredida e continua com o parceiro gosta de apanhar (Em %)
Discorda totalmenteDiscorda parcialmenteNeutroConcorda parcialmenteConcorda totalmente
248,41,922,442,7
Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas (Em %)
Discorda totalmenteDiscorda parcialmenteNeutroConcorda parcialmenteConcorda totalmente
58,411,63,412,813,2
Corrigida a troca, constata-se que a concordância parcial ou total foi bem maior com a primeira frase (65%) e bem menor com a segunda (26%). Com a inversão de resultados entre as duas questões, relatamos equivocadamente, na semana passada, resultados extremos para a concordância com a segunda frase, que, justamente por seu valor inesperado, recebeu maior destaque nos meios de comunicação e motivou amplas manifestações e debates na sociedade ao longo dos últimos dias.
O outro par de questões cujos resultados foram invertidos refere-se a frases de sentido mais próximo, com percentuais de concordância mais semelhantes e que não geraram tanta surpresa, nem tiveram a mesma repercussão. Desfeita a troca, os resultados corretos são os que seguem. Apresentados à frase O que acontece com o casal em casa não interessa aos outros, 13,1% dos entrevistados discordaram totalmente, 5,9% discordaram parcialmente, 1,9% ficou neutro (não concordou nem discordou), 31,5% concordaram parcialmente e 47,2% concordaram totalmente. Diante da sentença Em briga de marido e mulher, não se mete a colher, 11,1% discordaram totalmente, 5,3% discordaram parcialmente, 1,4% ficaram neutros, 23,5% concordaram parcialmente e 58,4% concordaram totalmente.
A correção da inversão dos números entre duas das 41 questões da pesquisa enfatizadas acima reduz a dimensão do problema anteriormente diagnosticado no item que mais despertou a atenção da opinião pública. Contudo, os demais resultados se mantêm, como a concordância de 58,5% dos entrevistados com a ideia de que se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros. As conclusões gerais da pesquisa continuam válidas, ensejando o aprofundamento das reflexões e debates da sociedade sobre seus preconceitos. Pedimos desculpas novamente pelos transtornos causados e registramos nossa solidariedade a todos os que se sensibilizaram contra a violência e o preconceito e em defesa da liberdade e da segurança das mulheres.
Rafael Guerreiro Osorio* e Natália Fontoura
Pesquisadores da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (Disoc/Ipea) e autores do estudo
* O diretor de Estudos e Políticas Sociais do Ipea pediu sua exoneração assim que o erro foi detectado."
 COMENTÁRIOS: 
1) O IPEA tem o desplante de afirmar que "as conclusões gerais da pesquisa continuam válidas". Um erro tão primário e grotesco como a troca de uma tabela por outra compromete, irremediavelmente, a reputação do Instituto e a credibilidade da pesquisa;
2) O erro é tão grosseiro que prova disso é que Rafael Guerreiro Osório, diretor de estudos e políticas sociais, responsável pela pesquisa, pediu exoneração;
3) Resta agora o IPEA explicar a absoluta contradição entre aqueles 65,1% que concordam total ou parcialmente que "mulher que é agredida e continua com o parceiro gosta de apanhar" e os 89,2% que discordam que homem pode xingar ou gritar com a própria esposa. Como relacionar estes números com o fato de 82,1% discordarem que mulher que apanha em casa deve ficar em silêncio em benefício dos filhos. Como as conclusões gerais do IPEA - de que o brasileiro é um povo abominável e miseravelmente machista - estão certas se 91% dos brasileiros acha que lugar de homem que bate em sua mulher é na cadeia? O brasileiro é machista ou não é, IPEA?
4) Esta pesquisa que ninguém merece é um desserviço ao combate das formas de violência de gênero, uma vez que contamina a credibilidade de pesquisas sérias que verdadeiramente informam e contribuem para compreender o problema e prevenir delitos contra a mulher. A produção de um instrumento de coleta de dados completamente mal redigido; questões vagas e imprecisas; método de coleta de dados inadequado, interpretação ideologicamente orientada e conclusões absurdas, acabaram por comprometer a credibilidade do IPEA. Por isso, podemos dizer: #NinguemMereceEsteIPEA.

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