quarta-feira, 23 de abril de 2014

Robôs são os melhores amigos dos criminosos?! Era só o que faltava...



Foi, provado, recentemente que os criminosos estão bastante antenados em novas tecnologias. A demonstração de tal fato aconteceu no Centro de Detenção Provisória (CDP) de São José dos Campos no dia 7 de março de 2014, quando um robozinho voador despejou 50g de cocaína no pátio do CDP. O pacote foi apreendido pelos agentes penitenciários, para infelicidade de vários detentos que correram para receberam a encomenda voadora. O drone voador, entretanto, fugiu sem deixar rastros de seu operador.

Este acontecimento deixa patente que os criminosos, em regra, são mais ágeis na assimilação de tecnologias do que as forças de segurança pública. De qualquer forma, é também um interessante paradigma para a discussão de como avanços tecnológicos podem impactar, tanto positiva quanto negativamente, em nosso cotidiano. Drones que estão sendo utilizados para entregar pizza - sério! - também estão sendo utilizados para entregar drogas. Já se tem notícia que pequenos drones, que podem ser adquiridos por preços acessíveis, podem ser customizados com armas de fogo, como pistolas. A utilização destes robôs voadores munidos de câmeras também provocará, por certo, problemas relacionados à privacidade.

Segue abaixo uma interessante reflexão sobre o assunto.


UMA VISÃO DE CÉUS POUCO AMISTOSOS:
Como criminosos estão usando drones

Por: Marc Goodman.
Tradução: O Rabujo.

Para a maior parte das pessoas, drones estão irremediavelmente associados com matança, guerra ou, mesmo, crimes de guerra sobre os céus do Iraque ou do Afeganistão. Porém, o que começou como uma tecnologia puramente militar está rapidamente migrando para nosso cotidiano.

O Departamento de Segurança Nacional (Department of Homeland Security - DHS/USA) e a Agência Aduaneira e de Proteção de Fronteiras vêm executando missões aéreas de drones ao largo de toda fronteira sul dos Estados Unidos para fiscalizar tudo, desde violações relacionadas a jogos e pescas, bem como outras vinculadas ao tráfico de pessoas e narcóticos. A FAA (Federal Aviation Administration) autorizou agências policiais, locais e estaduais, do Texas, Miami e Seattle - até mesmo a Universidade Estadual do Mississipi - a operar drones voadores em espaço aéreo norte-americano. Além disso, forças policiais da África do Sul, Quênia, Itália, Austrália e outros países estão usando drones em uma grande fama de atividades relacionadas com a manutenção da segurança pública.

O que está por detrás da rápida adoção das tecnologias de drones? Basicamente, a Lei de Moore. Drones como o Northrop Grumman RQ-4 Global Hawk já foram utilizados somente para fins militares. Cada um deles custou bilhões de dólares em desenvolvimento e custa centenas de milhões a unidade. Hoje, graças aos incríveis avanços em computação, muitas das capacidades do Global Hawk, certamente não todas, podem ser replicadas por alguns milhares, se não centenas, de dólares.

O que isso significa?  Significa que estes aparelhos se tornarão, cada vez mais, uma parte de nossas vidas e que eles vieram para ficar. A inovação não pode ser refreada e isso significa que os drones estão chegando. Isso também significa que nós precisamos de algumas diretrizes razoáveis e seguras para balizar as discussões relativas ao uso de tais aparelhos. Robôs possuem o potencial de proporcional um progresso mundial sem precedentes. Mas me ocorre que nosso conhecimento de robótica está se desenvolvendo mais rápido do que a nossa maturidade ou nossa compreensão das implicações éticas de tais tecnologias.

Temos que compreender e reconhecer o fato que criminosos e terroristas estão, em regra, entre os que mais rápido adotam inovações tecnológicas, e as últimas novidades em robótica não passaram despercebidas. Noutras palavras, criminosos e terroristas também podem fazer uso de drones voadores. Em 2011, o FBI prendeu um afiliado al Qaeda que planejava lançar três aeromodelos à jato, guiados por GPS e carregados com explosivos plásticos contra o Capitólio e o Pentágono. Aeromodelistas, além de montar seus próprios drones, já conseguiram acoplar, com sucesso, uma série de armas de fogo nestas plataformas, como é o caso de um pequeno drone helicóptero com uma pistola .45. Como será o futuro quando insanos atirados começarem a explorar tais tecnologias?

Criminosos também estão utilizando drones para contornar nossos atuais paradigmas de segurança. Prisões, por razões de segurança pública, usam altos, geralmente eletrificados, muros para isolar os criminosos da população. No Brasil, facções do crime organizado usaram drones voadores para entregar telefones celulares e outros objetos por sobre os muros. Os modelos de segurança são falhos para evitar tais robôs voadores.

É claro que não somente criminosos estão provocando as instituições governamentais com drones. Em setembro de 2013, membros do Partido Pirata na Alemanha, rapidamente, lançaram alguns drones na direção da Chanceler Angela Merkel quando ela estava proferindo um discurso. O feito foi um trote e os drones, no fim, pousaram inofensivamente a alguns metros da chanceler, mas e se estivessem munidos de explosivos?

Muitos, incluindo o fundador da Microsoft Bill Gates e a professora do MIT Cynthia Breazeal, notaram a ubiquidade do uso de robôs pessoais. Existem, com certeza, aparelhos que, sejam aquáticos, aéreos ou terrestres, podem redundar em grandes benefícios para a sociedade. Aplicações incluem a entrega de remédios em áreas rurais da África via Matternet, respondendo a calamidades no Haiti, ajudando fazendeiros a melhorar a produtividade de suas fazendas, combatendo incêndios em parques florestais, ou mesmo entregando pizzas... Drones e robôs são, sem dúvida, partes integrais do futuro de nosso mundo. A questão é, qual a melhor forma de utilizá-los.

Francamente, em estou preocupado com eventuais abusos, tanto por criminosos quanto por governos. Organizações com a ACLU e a Eletronic Frontier Foundation, com razão, colocam significativas questões sobre as implicações dos drones em temas relacionados à privacidade. E existem outras razões para preocupação. Todos os atuais drones são vulneráveis à invasão de seus sistemas computadorizados. Eles não passam de computadores voadores que irão liberar os crimes cibernéticos das telas de computador e os lançarem no mundo real. E eles farão isso de um modo que a maioria de nós ainda está despreparada para lidar.

Já existem numerosos casos de drones que tiveram seus sistemas invadidos. Só um exemplo: em 2012, estudantes da Universidade do Texas que, por meses, alertaram oficiais do Departamento de Segurança Nacional (DHS/USA) fizeram um pequena demonstração. Para absoluta surpresa das autoridades governamentais, os estudantes tomaram o controle de um drone do DHS bem debaixo de seus narizes e em tempo real.

Conforme marchamos para um mundo no qual o uso dos robôs pode ser considerado, no mínimo, ubíquo, resta nos perguntarmos quais a políticas públicas e implicações morais para o lançamento de drones (com o sem armamentos)? Quais as questões devem ser perguntadas agora, considerando que tais aparelhos são inerentemente inseguros e suscetíveis de invasão de seus sistemas? E onde estão os filósofos da ética robótica?

A FAA (Agência de Aviação Norte-americana) não pode ser o arbitro final destas questões. Ainda que seja compreensível as razoáveis precauções para regular um grande números de robôs voadores no espaço aéreo nacional, a agência está sobre intensa pressão das companhias de drones que estão de olho nas potenciais fortunas que podem ser geradas com este novo mercado. Com um mercado estimado em quase 90 bilhões de dólares na próxima década, a pressão está começando a fazer efeito; a FAA começou a afrouxar suas restrições. Uma série de novas regras em breve produziram seus efeitos como parte da Lei de Modernização e Regulamentação da FAA de 2012.

É problemático que alguns funcionários da FAA acreditem que questões de privacidade na utilização de drones estão fora do escopo da legislação. Se é assim, quem irá fiscalizar as eventuais infrações? Não é clara a resposta. Uma auditoria do Escritório de Responsabilidade Governamental (GAO), em 2012, entendeu que "nenhuma agência federal está legalmente designada com a específica responsabilidade de regular assuntos afeitos a violações de privacidade relacionadas com a utilização de sistemas aéreos não-tripulados".

Quem, então, deve tomar para a si a responsabilidade pelos óbvios problemas morais e legais associados ao uso de drones? A resposta mais curta: todos nós. Eu não sou um ativista antirobô ou antidrone, e certamente sou capaz de reconhecer os enormes potenciais decorrentes da utilização de tais aparelhos. Estou aqui somente para alertar a todos para o que o futuro que está chegando e que devemos assumir responsabilidade pelo que ele pode se tornar - Não podemos ficar na esperança que outro além de nós vai cuidar de nossos direitos e de nossa segurança neste território tecnológico inexplorado. A revolução na robótica será tão significativa como foi a precedente revolução na computação. Como será o futuro e como este redundará em benefícios para toda humanidade depende de todos e cada um de nós.

Marc Goodman é o fundador do Instituto de Crimes do Futuro e professor de "Polícia, Lei e Ética" na Singularity University.

Link para o texto original: aqui

Esse texto vai para meu amigo: Samuel Menezes. Valeu pela dica, Samuca!

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